Trata-se de uma peça em que "as coisas estão todas baralhadas", "como acontece nos sonhos", disse a artista de origem cabo-verdiana.
"Primeiro surgiu a ideia das estátuas e depois o baile das estátuas, porque procuro sempre uma contradição. A estátua está relacionada com qualquer coisa parada e o baile com o movimento. Depois, à medida que fui trabalhando, verifiquei que a petrificação seria a metamorfose possível para o humano se tornar pedra", descreveu Marlene Monteiro Freitas, durante os ensaios a decorrer no Centre Pompidou.
A artista inspirou-se nos mitos de Pigmaleão e de Orfeu e no documentário "As Estátuas também morrem" (1953), dos cineastas franceses Chris Marker e Alain Resnais, mas também se deixou influenciar pelo filme "Persona" (1966), de Ingmar Bergman, e por uma interpretação de Tina Turner da canção "Proud Mary".
"Há várias coisas que se sobrepõem e é do choque destes materiais que a peça desabrocha. Já conhecia o filme ["As Estátuas também morrem"] há muito tempo e revi-o. O que mais me tocou foi a sucessão de máscaras, a música dramática, muitas palavras constantemente por cima das imagens, os cortes. É como se o realizador de repente fosse ele próprio um Pigmalião ou um Orfeu, como se conseguisse conceder aos objetos vida", continuou.
A coreógrafa cabo-verdiana recorreu a dicotomias e sobreposições, como os binómios ausência/presença e visibilidade/invisibilidade, justificando que as estátuas fazem "com que os ausentes estejam presentes, com que o invisível esteja visível".
Marlene Monteiro Freitas trabalhou ainda "na deslocação de intensidades", exemplificando que se pode "estar a beber um copo de água e estar a chorar", para explicar que, "apesar das figuras e de as situações serem mais ou menos reconhecíveis, o sentido é muito plural e incontrolável".
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